sábado, 12 de fevereiro de 2011

Trabalhadores brasileiros


É comum encontrar dentro dos ônibus que circulam pelo Rio de Janeiro vendedores de doces, que com toda a educação e a lábia, usada com muita sagacidade, proferem um discurso ensaiado e treinado com o objetivo de vender a sua mercadoria. São dois chocolates, ou dois pacotes de amendoim, ou todas as demais guloseimas oferecidas em dupla, por apenas R$1.

Motoristas e cobradores de ônibus são aliados desses vendedores ambulantes, que entram e saem dos coletivos sem pagar passagem. Tudo isso pelo reconhecimento que um trabalhador tem pelo outro e pela típica camaradagem brasileira. O motorista – que enfrenta um verdadeiro caos no trânsito do Rio – e o vendedor de doces – que enfrenta um verdadeiro caos nos diferentes ônibus lotados que entra- sabem que a vida para conseguir o pão de cada dia não é fácil.

Pois bem, observando e analisando a atuação de um desses ambulantes num dia desses, questionei o que o levou a estar ali, por volta das 20h, com o seu gancho lotado de doces. Rapidamente listei uma série de necessidades de um cidadão comum: comprar comida para os filhos, educar bem as crianças, ter um teto no mínimo decente para morar, comprar um móvel, se vestir e vestir sua família, pagar a conta de luz, a conta de água, o transporte, o remédio... Enfim, itens básicos.

O salário mínimo brasileiro, hoje, é de R$510 podendo ser aumentado para R$545. Realmente, depois desse rápido questionamento que fiz, entendi os motivos daquele cidadão e de tantos outros estarem em ônibus, praças, ruas e esquinas do nosso Brasil. Sem formação e informação o que eles conseguem nos empregos formais é essa miséria de dinheiro, que com os descontos (Sim! Não nos esqueçamos dos descontos) fica em torno dos R$400.

Não vou nem entrar no viés de que a educação pública é péssima, a saúde é precária, o transporte é deficiente e as moradias são caras. Por isso mesmo, estão ai as nossas favelas. O que vemos atualmente são pessoas que correm por onde conseguem para garantir um sustento melhor para a sua família.


Para um país ser desenvolvido, os trabalhadores precisam ganhar bons salários, para que a economia gire. Para ganhar bons salários é necessário que essa gente tenha formação. Para se ter formação é preciso que a educação pública seja boa, o que não é. Com isso, ficamos em um círculo vicioso, onde o mais prejudicado são os que não nasceram privilegiados e não possuem uma família financeiramente confortável. Alguns ainda conseguem uma bolsa do governo ou uma ajuda de instituições e, dessa maneira, conseguem mudar seu futuro.

Na semana em que o slogan “Brasil, um país de todos” foi aposentado, nossa presidente instaura uma nova frase que nos acompanhará durante os próximos quatro anos: “Brasil, país rico é país sem pobreza”. Que esse conceito não esteja presente apenas nas campanhas do governo na mídia, mas esteja presente no dia a dia e na vida de todos os brasileiros que lutam como podem para sobreviver frente à miséria que nos assola.

Como já dizia o sábio Seu Jorge em sua música "Brasis":

"Tem um Brasil que soca
Outro que apanha
Um Brasil que saca
Outro que chuta
Perde, ganha
Sobe, desce
Vai à luta bate bola
Porém não vai à escola..."